
Na pecuária de corte, a produção de bezerros desmamados representa a principal fonte de renda para o criador. No entanto, a época de desmame é um período de considerável estresse tanto para a vaca quanto para o bezerro, o que pode causar perda no rendimento de ambos. A utilização de um método de desmama mais adequado e cuidadoso pode melhorar o desempenho reprodutivo do rebanho, sem que prejudique a matriz e o desenvolvimento da cria.
A partir do terceiro mês de lactação, o leite passa a ter pequena participação na dieta do bezerro. E o desmame tradicional normalmente ocorre aos seis ou oito meses de vida. Após essa separação, o comportamento da mãe e da cria é bastante previsível. Nesta condição vacas e bezerros tendem a comer, ruminar e descansar menos e passam mais tempo caminhando e vocalizando repetidamente. São essas alterações de comportamento que indicam que o método de desmama tradicional causa conseqüências negativas sobre o bem-estar animal.
Alguns métodos são recomendados para tornar a desmama menos traumática para ambos. Certas alternativas de manejo otimizam o desempenho reprodutivo e produtivo do rebanho de cria:
- desmama com visualização;
- separação em dois estágios;
- desmama controlada.
Já outras são apontadas como menos eficazes:
- Separação completa;
- uso de vacas madrinhas;
- troca de lotes.
Desmama com visualização
Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indica que vacas e bezerros ficam mais tranquilos, desde os primeiros dias após o parto, quando colocados próximos uns dos outros, separados apenas por uma cerca, mas mantendo o contato visual. Um estudo da Universidade da Califórnia, aponta que a cria tratada dessa forma pode ganhar a mais até 30% de peso em dez semanas logo após a desmama se comparados aos bezerros desmamados de modo tradicional. Além disso, os animais andaram menos e chamaram menos por suas mães.
Neste caso, ainda que separados por uma cerca, os animais recebem alimentos complementares em cocho comum. O mesmo acontece com a água. Esse método facilita o consumo do bezerro proporcionando aumento de peso.
Ainda segunda a Embrapa, o método reduz consideravelmente o estresse do rebanho de cria. E para garanti-lo é necessário ter uma cerca resistente que impossibilite que a vaca e o bezerro se juntem novamente. Outra observação acrescentada ao estudo sugere manter usualmente os bezerros no curral de quatro a sete dias após a desmama, fornecendo água, ração no cocho e capim fresco à vontade.
Separação em dois estágios
O processo de desmama por meio de separação em dois estágios é uma alternativa que também aumenta a eficiência produtiva do rebanho de cria. Esse método consiste em evitar que o bezerro mame, no primeiro estágio, usando uma tabuleta no focinho do animal. Essa primeira etapa da desmama deve durar entre quatro e sete dias, e não tem interferência negativa no comportamento do animal que se alimenta e caminha pelo mesmo tempo que animais sem a tabuleta e também não vocalizam. Para o segundo estágio, o método indica a separação de mãe e cria. De acordo com a Embrapa, os bezerros desmamados em dois estágios apresentam comportamento positivamente significativo se comparados com os bezerros desmamados de forma tradicional:
- vocalizam 85% menos;
- caminham 80% menos;
- passam 25% mais tempo se alimentando;
- descansam 24% mais tempo;
- sete dias após a separação ganham peso significativamente mais elevado.
A dificuldade desse método está na colocação e retirada das tabuletas, sobretudo em rebanhos grandes. Portanto, alguns cuidados são indicados para adoção deste manejo.
- O tratamento preventivo de doenças e o controle de ecto e endoparasitos deve ser feito seguindo rígido manejo sanitário.
- Aplicação de vermífugos, vacinas e castrações devem ser feitas quatro semanas antes e evitadas durante a desmama.
- Os bezerros precisam ser checados regularmente. E em caso de doença, devem ser isolados imediatamente para tratamento e para evitar contágio dos demais.
- É importante evitar distúrbios nos bezerros recém-desmamados. O ideal é evitar comercialização e transporte dos animais.
- E os piquetes precisam estar protegidos contra estresses climáticos.
Desmama controlada
Para a técnica de desmama controlada recomenda-se que os bezerros separados de suas mães sejam colocados para mamar duas vezes ao dia, uma pela manhã e outra à tarde. É importante que durante o tempo em que não estiverem juntos, os bezerros fiquem no pasto com capim. Ainda que não haja avaliação científica que prove a eficácia desse manejo, pecuaristas se dizem satisfeitos com os resultados da técnica. Esse método torna sugere o afastamento da cria com a vaca seja progressivo, o que torna a desmama mais suave. Outra vantagem é que como os bezerros são estimulados a pastar, ganham peso ao mesmo passo em que as mães se recuperam.
Separação completa
Outra alternativa de manejo para a desmama do rebanho de cria é a separação completa. Neste método, os animais são separados e colocados em áreas afastadas de modo que mãe e cria não possam ouçam a vocalização um do outro. Recomenda-se que as vacas sejam retiradas para outro setor da fazenda.
Já os bezerros devem permanecer na área em que estão acostumados ficar por questão de familiaridade com o local. No entanto, havendo necessidade de remover a cria para outras áreas, é imprescindível que o bezerro seja transferido e goze de maior conforto possível, com água em abundância, sombra e abrigo do vento. Vale ressaltar que esse método provoca alterações no comportamento dos bezerros reduzindo assim seu desempenho.
Uso de vacas madrinhas
Embora pesquisadores da Universidade de Saskatoon, no Canadá, considerem a substituição das mães por vacas de descarte um método com pouco ou nenhum benefício, essa é também uma técnica de manejo do rebanho de cria. O objetivo é fazer com que os bezerros se alimentem mais rápido e também estabilizar o ambiente social do animal. Mas o que os pesquisadores canadenses constataram é que usar vacas madrinhas junto ao rebanho recém desmamado não melhora o desempenho, imunidade e saúde. Além disso, o comportamento do animal é semelhante ao dos desmamados abruptamente.
Troca de lotes
Também testada pela Universidade de Saskatoon, a divisão do rebanho em dois lotes de vacas e bezerros, promovendo a troca das vacas do lote original também não se mostra funcional para a desmama. Em ambos os casos mães e crias procuravam seus pares. E a técnica não demonstrou benefício no comportamento animal.
Cuidados garantem resultados
Desde que tomados os cuidados necessários, segundo a Embrapa, a utilização de métodos da desmama mais adequada pode melhorar não só o desempenho produtivo mas também reprodutivo do rebanho. E a eficácia de cada método vai sempre depender da disponibilidade de forragem e do estado nutricional das vacas e novilhas.
Portanto, é válido ainda enfatizar que para que os resultados sejam os melhores possíveis, independente do manejo escolhido, estabelecer uma estação de monta de curta duração de maneira que o período de maior requerimento nutricional das vacas coincida com o período de maior disponibilidade de forrageiras de boa qualidade é também de extrema importância.
Para medir e acompanhar se o método escolhido está funcionando para sua fazenda é fundamental ter e analisar as informações de desempenho das vacas e dos bezerros durante a desmama. Só assim é possível identificar os pontos sensíveis de melhora e os que estão de acordo com as metas e índices determinados na estratégia. Coletar, gerenciar e analisar as diversas informações do rebanho e cada manejo ao longo do processo de desmama exige a utilização de recursos tecnológicos.
Continue acompanhando as informações do nosso blog para saber mais sobre oportunidades de gestão, produtividade e tecnologia que ajudam a transformar positivamente a sua propriedade e aumentar a lucratividade do seu negócio.